"Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar."
Caius Julius Caesar

30 novembro, 2009

Um Acordo Ótimo e Atual

No Domingo estava doente em casa, ainda mais abatido pelo facto do Benfica ter empatado. Mesmo assim, pedi ao meu pai para me comprar A Bola, o meu jornal desportivo de preferência, quando fosse à rua. O meu pai voltou com o Record, porque já não havia A Bola. Eu, ávido leitor d'A Bola, estranhei quando li o Record, pela sua escolha ortográfica. Exa(c)tamente, estava tudo escrito no belo do Acordo Ortográfico de 1990.

Bem sei que é um assunto já muito batido, mas é infelizmente e constantemente renegado apesar da sua importância. Não tomem a minha opinião como um 'embirranço' eurocêntrico ou anti-brasileiro, não. Mas acho que é um sinal negativo um Governo regular uma coisa tão natural como a própria língua. Uma coisa é o Instituto Camões ou outro órgão do género 'recomendar' uma forma de escrever as palavras. No entanto, outra coisa é o Governo querer impôr esse Acordo que vai alterar grandemente as nossas vidas, sem o nosso consentimento. Em notícia do JN de Janeiro do ano passado, o ex-Ministro da Cultura mostrou intenção em aplicar o Acordo já em 2010. Desconheço, no entanto, como é que a nova Ministra da Cultura vai actuar.

Muitos proponentes do Acordo afirmam que vai ajudar a "uniformizar o ensino do Português a nível mundial" e fazer da nossa língua mais importante. Não vejo a relação. O Inglês é a língua estrangeira falada por mais gente e tem duas regras ortográficas - uma Americana e outra Britânica (center/centre; favor/favour; program/programme, etc.). A minha opinião (e de muita gente) não é baseada num anti-brasileirismo, não. Eu não tenho nada contra o Brasil, nem contra a influência cultural que tem (através das novelas, por exemplo). Eu até lia a Turma da Mônica quando era puto. Um Acordo Ortográfico impõe-se quando as pessoas já anteriormente começam a mudar elas próprias a ortografia. Se muitas pessoas e meios de comunicação, ou escritores, começassem a escrever "ótimo", eventualmente seria racional ser essa a regra. No entanto, não é esse o intento do Acordo. O intento do Acordo é impor-nos uma forma de escrever. E eu, pessoalmente, acho moralmente errado e anti-democrático, um Governo dizer aos cidadãos como escrever. E acho que, se isto for mesmo para a frente, todos aqueles que não se identifiquem com o Acordo devem continuar a escrever como acham melhor, e que, naturalmente, usem todos os meios políticos para conseguir impedir ou destruir este atentado à nossa língua. Porque a língua é do povo, não é do Estado.

Em jeito de conclusão, não me tomem como antiquado ou como xenófobo. Pelo contrário, todos os verdadeiros democratas devem rejeitar isto na base em que uma mudança tão importante na vida das pessoas nem sequer vai a referendo. E porque é anti-democrático uma política cultural de imposição, (há muita coisa errada na política cultural deste país, mas deixo isso para posts futuros) devíamos rejeitar. A língua é algo nosso, de cada um e de todos. Não é propriedade do Estado. É uma coisa natural, complexa e inexplicável (tal como a economia também) e especialmente espontânea. E não o pode deixar de ser. Num século XXI que se avizinha negro por causa da infiltração de um Estado proto-Orwelliano, aparentemente legitimado pela democracia, em todos os sectores da sociedade, devemos relembrar ao Estado a velha máxima "As pessoas não devem ter medo dos Governos, os Governos devem ter medo das pessoas." Mas isso será um tópico que vou desenvolver em futuros posts.

2 comentários:

  1. Ó rapazinho!

    Pois então é do Benfica? Azar o seu!

    Quanto ao Estado e à língua portuguesa?!

    Então a língua pertence a quem? Quem forma e enforma o Estado? Você diz umas verdades, depois tropeça e cai. Mas valha-lhe a convicção.

    Agora quanto à imposição da língua...
    Claro está que não é o BRASIU que me vem dizer como FALÁ, NÉ? Nem o brother não sei de onde que me vem impingir o BUÉ e o BUIÇA.

    Há que fazer respeitar a origem do Português, que é NOSSA e só NOSSA ( para os SURDOS OUVIREM) e não é pelo facto de os irmãos du BRASIU falarem, né, que eu vÔ já me pô falando que nem eiles, né?

    Mas para isso, é preciso haver tomates neste país e pelos vistos já nem Benavente os produz! Precisamos de um fenómeno do entroncamento, para podermos implantar na nossa estimada casa das leis - a assembleia da República...

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  2. Bom texto.
    Não discuto o que dizes, com uma excepção: admito que os efeitos do Acordo sobre a uniformização do ensino do português não se venham a fazer sentir; contudo, acho que escolheste mal a comparação.
    É que tanto os E.U.A. como o Reino Unido, não obstante as diferenças que os separam, são ambos Estados com (muita) importância na actualidade: são potências, com dimensões diferentes, mas potências. Ora, esse não é claramente o caso de Portugal/Brasil. Para além do tamanho descomunal do Brasil quando comparado com o nosso país, penso até que o mais importante é isto: o Brasil é uma potência e nós não. Aliás, no que toca à importância de cada um destes países, o fosso tenderá a aumentar bastante mais: pelo menos no futuro próximo, por muito que Portugal cresça (duvido), o Brasil crescerá sempre mais, e com ele o português do Brasil. Como tal, podes estar certo que é português do Brasil e não português de Portugal aquilo que vai ser estudado pela esmagadora da maioria. O que se poderá questionar é se e de que maneira sairemos prejudicados dessa situação, mas essa questão fica para outro dia.

    PS: eu não lia a Turma da Mônica, mas gostei da menção.

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